Atividade realizada em Palmeira (PR) avaliou as ações desenvolvidas pela Rede, além de construir um calendário em defesa das sementes crioulas, da agrobiodiversidade e pela soberania alimentar e nutricional dos povos

Por Comunicação Rede Sementes da Agroecologia

Pensar estratégias coletivas para fortalecer a preservação e multiplicação das sementes crioulas e planejar um calendário comum de ações em defesa da vida, da agrobiodiversidade, pela soberania alimentar e nutricional, contra os transgênicos e os agrotóxicos. Esse foi o intuito das entidades e movimentos sociais do campo e da cidade que compõem a Rede Sementes da Agroecologia (ReSA), ao se reunirem na última quinta e sexta-feira (25 e 26/11), em Palmeira, região centro-sul do Paraná. 

A campanha “O Milho é Nosso” e as Jornadas de Agroecologia, realizadas anualmente desde 2001 por diversos movimentos sociais e organizações não-governamentais atuantes no Estado, foram solos férteis para a germinação da ReSA, em 2015. De lá para cá, visando unificar as lutas em defesa da agrobiodiversidade, da soberania alimentar e nutricional, a Rede tem se fortalecido no território paranaense. Exemplos disso são as festas e feiras das sementes crioulas, e, mais recentemente, o Projeto Emergencial de Conservação e Multiplicação da Agrobiodiversidade (PECMAP), que tem garantido que diversas espécies circulem entre famílias agricultoras.

Avaliar os avanços e desafios da ReSA nos últimos dois anos, após a chegada da pandemia no país e que exigiu a reinvenção de diversos processos, foi um dos pontos que compuseram a programação do encontro. Com o novo cenário, as entidades consideram que todos foram desafiados, mostrando a resistência das organizações e das famílias agricultoras para garantir a continuidade das ações de preservação e multiplicação das sementes crioulas, da produção de alimentos e geração de renda. 

“Com a pandemia, o coletivo todo perdeu grandes companheiros, mas ela nos fez resistir e mostrou que a gente tem ainda mais algumas missões para cumprir. Assim, a união de nossos grupos nos fez inovar para garantir a circulação das sementes crioulas pelo Paraná. A compra de sementes das mulheres com o projeto tocado pela Terra de Direitos junto com a ReSA, e agora o Projeto Emergencial da ReSA com o Ministério Público do Trabalho (MPT/PR), dá todo um movimento a agrobiodiversidade no estado. Com isso, o projeto mostra o esforço de cada um, de cada entidade”, avaliam as organizações.

Para Isabel Cristina Diniz, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a pandemia fez com que “nos reinventássemos na solidariedade, na parceria e na nossa capacidade de não perder a mística, a espiritualidade, a relação com o sagrado contido nas sementes crioulas, e isso garantiu a chegada de comida de verdade, de qualidade, para os povos.”

A guardiã urbana de sementes crioulas, Andrea Jantara, afirma que “a gente estava muito preocupada com as sementes neste processo de pandemia, mas continuamos comprometidas como guardiãs e guardiões, e conseguimos nos fortalecer e nos sentimos responsáveis pela multiplicação das sementes”.

Ao todo, 17 entidades, coletivos, movimentos sociais e instituições de ensino de diferentes regiões do Paraná estiveram presentes na reunião.

PECMAP e formação das famílias guardiãs – O Projeto Emergencial de Conservação e Multiplicação da Agrobiodiversidade (PECMAP), realizado desde agosto de 2020 pela ReSA com o apoio do Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT/PR), foi outro ponto de reflexão conjunta. Desde o começo do projeto mais de 5 mil famílias agricultoras, que integram as entidades que compõem a Rede, foram beneficiadas com mais de 30 toneladas de sementes crioulas, mudas de plantas medicinais, ramas e tubérculos. A ação de partilha, que está em sua segunda edição, realiza desde novembro a primeira etapa de distribuição de espécies pelo Paraná.

Silvonei José Pontes, do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), em Verê, no sudoeste do estado, comenta que a distribuição das sementes crioulas pela entidade na região, durante a primeira edição do Projeto, conseguiu atender diferentes terras indígenas, além de possibilitar a construção de unidades de resgate das espécies.

“Na primeira etapa do projeto conseguimos distribuir sementes crioulas em oito municípios de etnias Guarani Kaingang e da agricultura tradicional. Foram 15 variedades de milho, que possibilitaram aos guardiões de sementes resgatar as raças de galinhas e porcos caipiras, além de possibilitar a construção de duas unidades de referência de resgate e multiplicação de sementes crioulas, em áreas de reforma agrária.” 

Desde sua construção, a ReSA busca identificar as famílias que preservam e multiplicam diferentes espécies de sementes crioulas, aproximando e consolidando a Rede de Famílias Guardiãs. Assim, além de fortalecer o compromisso de todas com o cuidado e partilha das variedades, tem buscado realizar processos mais amplos de formação, já que todas as espécies partilhadas vêm das guardiãs e dos guardiões.

“Cada momento de interação e troca é formativo, mas precisamos olhar para todo o processo e identificar os problemas. A formação não é um cursinho. O conteúdo programático precisa incluir repactuação da ReSA, agregar valor ao que o guardião tá produzindo, questões conjunturais, novas tecnologias. As condições sanitárias da pandemia vão estar oscilando, o   que pede que façamos um misto de presencial e online” afirma Isabel.

Luta contra as violências e opressões – Durante a reunião, que contou com uma programação recheada de estudo, debate, reflexões e partilha, as entidades reforçaram o papel da ReSA na defesa da agricultura familiar, na luta contra o agronegócio, o uso de transgênicos e agrotóxicos nas lavouras. 

Na ocasião, também foi reafirmado o trabalho da Rede contra qualquer tipo de violência e opressão sofrida pelas famílias agricultoras, povos e comunidades tradicionais e originárias, mulheres e a comunidade LGBTQIA+. Exemplo disso foi a mística de abertura da atividade, que evidenciou o dia 25 de novembro, data que celebra o Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher.

“A ReSA é um espaço de não violência e muita luta e hoje temos a oportunidade de refletir e promover ações”, destaca Janete Rosane Fabro, agricultora guardiã das sementes e integrante da Associação de Estudos Orientação e Assistência Rural (Assesoar).

Os participantes também recordaram o importante trabalho desenvolvido pelo jovem, militante e camponês da agroecologia, Lindolfo Kosmaski, que teve sua vida ceifada em maio deste ano, em São João do Triunfo, no Paraná. Indícios apontam que o homicídio tenha sido motivado por homofobia.

No segundo e último dia da reunião, foi realizada a partilha de sementes crioulas, sacolas, camisetas e materiais de estudo entre as organizações. Toda essa diversidade será distribuída entre os integrantes de cada entidade nas regiões.

É importante reforçar que esta primeira reunião presencial após quase dois anos, foi extremamente reduzida em participantes devido aos riscos sanitários e cuidados para evitar a contaminação por Covid-19. Haverá, no início de 2022, um encontro ampliado da Rede. Em breve, mais informações!

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