Organizações e movimentos sociais populares do campo e da cidade, realizaram uma ação de solidariedade às famílias quilombolas e indígenas do sudoeste do Paraná. Se envolveram nesta ação, comunidades de 18 municípios.

A solidariedade e a organização popular do campo e da cidade se transformaram em toneladas de alimentos doados nesta quinta-feira (21), na região sudoeste do Paraná. A ação é organizada pelo Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais Populares do Campo e da Cidade do Sudoeste do Paraná e outras organizações sindicais, populares e estudantis da região.

A ação é resultado de uma campanha de solidariedade em que foram doados alimentos produzidos por agricultores familiares e camponeses, atingidos por barragens, assentados, acampados e cooperativas da região, de cerca de 18 municípios.

Foto- Isadora Stentzler

As doações foram destinadas a 200 famílias do quilombo Adelaide Maria da Trindade Batista, que vivem no bairro São Sebastião do Rocio, município de Palmas. E para 200 famílias indígenas dos municípios de Coronel Vivida, Chopinzinho e Mangueirinha. No total, foram 400 famílias de povos tradicionais beneficiadas com a ação.

As comunidades tradicionais lutam pelo reconhecimento de seu território, e ainda nesse período de pandemia muitas famílias ficaram sem trabalho.

Os alimentos organizados expressaram a diversidade e a fartura de produção da agricultura familiar, que é uma das principais bases da economia regional. Roupas e produtos de higiene também fizeram parte dos itens doados.

Paulo Czekalski, coordenador do Fórum, explica que parte dos alimentos foram doados e parte comprados diretamente dos produtores e produtoras e das cooperativas de agricultores familiares, com recursos levantados pelas organizações. “Foi uma corrente que ajudou quem está precisando desse alimento nesse momento de dificuldade, mas também teve a comercialização e a doação daquele produto que estava excedente. Por isso é uma campanha de solidariedade e não de caridade”, argumenta Paulo, representante do Fórum.

Na Reserva Indígena de Mangueirinha vivem 614 famílias das etnias Guarani, Kaingang e Xetá, em 16.800 hectares já demarcados e que também estão nos municípios de Chopinzinho e Coronel Vivida. “A gente só tem a agradecer por vocês estarem vendo a nossa situação e correndo atrás pra nos ajudar”, diz João Santos Luiz Carneiro, 62 anos, cacique da aldeia.

Foto- Isadora Stentzler

Para a população indígena que antes tinha no artesanato a principal forma de sustento, a pandemia se transformou num período de dificuldade de garantir o alimento dentro de casa. No entanto, para além da luta pela sobrevivência neste período de crise política e de saúde pública, o povo da comunidade precisa resistir às ameaças ao território: “Eles [fazendeiros] estão entrando devagarzinho ao redor da aldeia. O que estamos precisando é reaver os marcos”, explica o cacique. Ele explica que o Ibama deve fazer vistorias na área logo após o fim da quarentena.

Outra parte dos alimentos arrecadados foram destinados às famílias do quilombo Adelaide Maria da Trindade Batista, que vivem no bairro São Sebastião do Rocio, município de Palmas, onde vivem 200 famílias quilombolas. Na comunidade eles também acolhem famílias não quilombolas que não tem para onde ir.

As famílias tradicionais lutam pelo reconhecimento de seu território a anos, que foi sendo ocupado espontaneamente pelo crescimento das famílias negras escravizadas da região. E nesse período de pandemia, vários ficaram sem trabalho.

Foto- Geani Paula de Souza

Para a Matriarca da comunidade Maria Arlete, esses alimentos vão ajudar muitas famílias que estão sem trabalho nesse período. “Esta ação deixou todos felizes, ficamos alegres em poder ajudar, e as famílias vão ficar satisfeitas com esta ação, agradecemos de coração todas as entidades que ajudaram, pela quantidade de alimentos, conseguimos distribuir para um número ainda maior de famílias, abrangendo também quem não era quilombola”, conta alegre a matriarca.


Heranças da resistência camponesa

O sudoeste do Paraná está entre as regiões do estado com maior índice de estabelecimentos rurais nas mãos da agricultura familiar. E não foi por falta de tentativa dos interesses dos latifundiários. A Revolta dos Posseiros é o episódio da história da região sudoeste que marca a vitória dos colonos contra companhias de terras grileiras governos estadual e federal. O ápice dessa luta ocorreu em 1957, mas sua herança frutificou a agricultura camponesa e inúmeras formas de resistência.

Os habitantes do sudoeste do Paraná são herdeiros daqueles colonos e colonas corajosos que enfrentaram jagunços na década de 1950, além das tantas iniciativas de resistência que constroem a história da região.

O Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais Populares do Campo e da Cidade, do Sudoeste do Paraná, ao longo de 20 anos, tem ampliando a participação e a articulação com as organizações da cidade, buscando fortalecer o elo entre campo e cidade, na perspectiva da luta unitária. O desenvolvimento social, político e econômico sempre estão no horizonte.

É a aliança entre o campo e cidade, gerando resistência e solidariedade!

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1 Comentário

  1. Essas 12 toneladas se juntam há outras 6 arrecadas e distribuídas há poucos dias em uma Campanha por Resistência e Solidariedade. Mais de 18 toneladas de alimentos. Mais de 600 famílias. Outras centenas de famílias doadoras. Povo do campo e da cidade, juntos, construindo resistência e solidariedade enfrentando as consequências nefastas desse modelo neoliberal, centrado no dinheiro como valor máximo, em detrimento da vida das pessoas e do planeta. Sigamos todos, nosso inimigo comum é a “casa grande” que persiste em manter na “senzala” grande parte da população brasileira.


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