Para grande parte da população, o primeiro de maio, é só mais um feriado, e se possível emendar com mais algum dia de folga (parece que isso vai acontecer nesse ano!), vira feriadão. Simples assim, e então, o clima de festa, é o que se destaca: porco assado, churrasco, passeios, etc… Poucos lembram da razão do primeiro de maio – dia internacional do trabalhador -, celebrado em homenagem aos trabalhadores de Chicago/EUA, que em 01 de maio de 1886 pararam em protesto contra as penosas jornadas de trabalho, que em geral eram superiores a doze horas diárias e por conta disso foram duramente reprimidos.
Estamos em 2025 e lá se vão quase 140 anos, desde 1886. O mundo mudou, especialmente o mundo do trabalho – do trabalho braçal, para o mecânico, para o digital e estamos no limiar da AI/inteligência artificial. Será que ainda se justifica ter o dia primeiro de maio como um momento de reflexão sobre a luta dos trabalhadores e sobre o mundo do trabalho? Sem medo de errar, a resposta é SIM.
A resposta é SIM porque apesar do mundo ter mudado, o trabalho – a energia do ser humano como elemento essencial para a geração de riquezas – ainda se mantém. Mudam os regimes políticos, os sistemas de produção, as tecnologias, mas o elemento humano, de carne, osso, coração e sentimentos, continua presente em todas as etapas dos processos produtivos. Continuam as jornadas exaustivas, as semanas de seis/sete dias de trabalho, os salários baixos, os ambientes pouco salubres, etc…
É verdade que já não se morre de velho aos 40/50 anos, mas se morre um pouco por dia, por doenças profissionais, por estafa, por problemas de cabeça, por doenças sem nome, por acidentes de todo tipo, de tal forma que a vida estendida, muitas vezes perde o sentido da vida, especialmente para quem está vinculado ao mundo do trabalho.
Então, me parecem presentes razões de sobra para ter o primeiro de maio como momento de reflexão. Momento de refletir/questionar por qual razão, no limiar da inteligência artificial, alguns ainda têm de trabalhar seis/sete dias por semana, quando grande parte trabalha no máximo cinco dias. Momento de refletir/questionar por qual razão, se tributa mais o trabalho do que o capital, do que a renda. Momento de refletir/questionar por qual razão as riquezas da modernidade, não são acessíveis a todos igualmente. Momento de refletir/questionar os padrões de acumulação da riqueza criada pelo trabalho, onde para muitos sobra pouco; e para poucos sobra muito. E por aí podemos seguir…
Nos dias atuais, com as tecnologias disponíveis, globalizamos as informações, as relações, as distâncias, as tecnologias, o capital, as doenças, a fome, as guerras… É chegada a hora de globalizarmos a comida, a saúde, a paz, a dignidade, as benesses da modernidade, de forma ampla a todos os trabalhadores. É possível reduzir jornadas, humanizar o trabalho, pagar melhores salários, tributar mais a renda e o capital do que o trabalho. É possível retomar o sentido da vida, com ética e dignidade.
É possível refletir sobre o trabalho, no DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR, de forma a se pensar em alternativas para um mundo melhor para as próximas gerações. Não se negue o descanso, a festa…; mas não se ignore que os frutos que ora colhemos, foram plantados por gerações que nos antecederam. Se hoje colhemos jornada de oito horas, férias, 13º salário…, é porque alguém plantou e se queremos que as futuras gerações tenham o que colher (o que temos ou algo mais), é nossa obrigação, plantarmos. Parece simples, mas exige muito.
Nossas homenagens aos trabalhadores de ontem, hoje e amanhã, nesse dia especial.
Arni Deonildo Hall – advogado em Francisco Beltrão.
Informações históricas – a Greve dos trabalhadores de Chicago, iniciada em 01 de maio de 1886 durou alguns dias e foi duramente reprimida pela polícia, por isso virou uma referência aos trabalhadores do mundo. Nos anos seguintes a data passou a ser lembrada em homenagem a lutas dos trabalhadores ao redor do mundo. Em 1919 a França reconheceu a jornada de oito horas diárias e em 1924, o Governo Arthur Bernardes, entendeu o dia, como feriado nacional. Ao longo do tempo, os direitos que hoje temos assegurados, foram sendo conquistados. Os trabalhadores e suas organizações, têm o dia primeiro de maio, como dia de homenagem, reflexão e luta.
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