Indigenas no Encontro Regional de Mulheres. Foto: Geani Paula/Assesoar.

Durante o 08 de março, deste ano, que aconteceu na Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR), e reuniu mulheres de toda região, com o lema “É tempo de Avançar: Pela vida, trabalho e território das Mulheres”, indígenas do território de Mangueirinha e Vitorino participaram e apresentaram uma “Carta das Mulheres Indígenas”.

Neste dia 19 de abril, dia dos povos indígenas, relembramos a luta das mulheres como símbolo de resistência, mas também de muita luta pelos territórios, e principalmente sobre seus corpos.

Carta das Mulheres Indígenas

Ninguém sabe o que é existir na pele de um indígena, sejam eles, crianças, jovens, mulheres, anciões… Ninguém sabe quais são suas dores? O que lhe faz feliz? O que marcou sua trajetória?

A invisibilidade é ainda maior, quando se trata de corpos de mulheres indígenas.

No silêncio sufocante, das lágrimas derramadas e dos gritos abafados, reside na alma das mulheres indígenas, uma dor que encontra suas raízes nas cicatrizes invisíveis do passado, não é difícil entender o desespero que está empurrando nossas meninas e mulheres indígenas para o abismo do suicídio, e não tem como ignorar mais as conexões entre essas tragédias e as violências contra mulheres indígenas que se iniciam na infância.

Cada abuso, cada violência sofrida é uma ferida que se abre e que não cicatriza, uma sombra que paira sobre cada sorriso forçado, cada noite de insônia. Não podemos mais fechar os olhos para essa dolorosa realidade, precisamos de políticas públicas efetivas que ofereçam apoio psicológico, orientação jurídica, e acima de tudo, um ambiente seguro e empático onde nossas meninas e mulheres possam encontrar refúgio e esperança. Chegou o momento de agir, de levantar nossas vozes em prol daquelas que estão sendo invisibilizadas, até mesmo pelas organizações indígenas, precisamos de um mundo onde nossas meninas e mulheres indígenas possa encontrar a paz que tanto merece.

Miriam Kanhgág foi uma dessas mulheres, “invisível” ela se foi, assim como outras mulheres que são violentadas e não são ouvidas, todo descaso, toda negação e mais uma se vai deixando filhos, uma luta, um sonho, uma história, queremos justiça, e cadê?? Cadê os responsáveis, cadê o abusador??? Cadê???

Justiça por Miriam e por todas as meninas e mulheres que partiram.

Tudo se calou, nada se fez, ainda esperando respostas da justiça, eu e o povo kanhgág espera.

Enquanto existir uma mulher araucária, resistiremos e lutaremos por ela e pela terra.

Uma araucária tomba, outras se levantam.

Dedicamos esta carta às mulheres araucárias, mulheres indígenas que fizeram essa luta, são muito importantes para nós, muito importante para todas nós!

Mirian Bandeira, Tainá Varē e Angélica kaingang, e outras muitas mulheres indígenas que tombaram como araucárias, deixando para nós seus frutos e seu legado.

Sou Jociele kanhgág, mãe, ativista, universitária, cofundadora e presidente do coletivo de mulheres Indígenas kanhgág e Guarani Ga Jãre do território de Mangueirinha.

Colaborador de escrita: Amauê Jacinto  e Vanessa Fe Há.

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