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Que a educação pública vive sob ataques, a comunidade escolar, as professoras e professores já sentem na pele diariamente, no entanto, o que fazer para reverter essa situação?

Os caminhos são árduos, podem ser diversos e até mesmo paralelos para buscar uma mudança nesse quadro. Na Escola Estadual do Campo Jacutinga, situada no município de Santa Izabel do Oeste, uma proposta é colocada em prática.

História e Conjuntura

Com mais de 17 anos da Carta de Porto Barreiro, que anunciava e ao mesmo tempo denunciava, os encontros da Articulação Paranaense Por uma Educação do Campo construíram pautas específicas da educação publica do campo [ver quadro ao lado] e da realidade das escolas do campo. A conjuntura é que as Escolas do Campo vem sendo sufocadas por uma série de medidas e leis autoritárias. Segundo o Boletim da Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, em 2014 foram fechadas mais de 100 escolas. “Essa situação tem demonstrado que aos povos do campo tem sido negado o direito a educação no lugar onde vivem”.

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Lista com reivindicações construídas no início da década de 2000 demonstra que há um quadro de estagnação e retrocessos na Educação Pública do Campo no Paraná (Fonte: História da Articulação Paranaense, 2000)

O Processo dos Inventários

A ASSESOAR e a UNIOESTE, como organizações que integram a Articulação Paranaense por uma Educação do Campo, iniciaram um acompanhamento com objetivo de fortalecer as relações entre escola do campo e os sujeitos que nela trabalham e estudam. Uma das maneiras acordadas nesse processo é a construção de inventários da realidade, que possam indicar novas práticas de planejamento pedagógico da Escola do Campo.

Uma das reuniões de discussões e construção do inventário da realidade
Uma das reuniões de discussões e construção do inventário da realidade

Para o Educador Popular Ricardo Callegari, o contexto de ataques que a educação pública vem sofrendo é contínuo e muito certeiro. No entanto, “[…] a educação pública do campo é ainda mais alvo destes ataques, como por exemplo o fechamento de escolas do campo, as estruturas precárias de funcionamento, as estradas e o transporte escolar”. Para o educador Ricardo a proposta de realizar o acompanhamento vem no sentido de construir uma resistência e fortalecer a educação do campo.

O inventário da realidade consiste em uma importante ferramenta de levantamento (quantitativo e / ou qualitativo) e registro organizado de aspectos materiais ou imateriais de uma determinada realidade. Pode-se fazer um inventário de bens, de valores, de produções econômicas, culturais, sociais, de recursos naturais, de pessoas, de formas de trabalho, de lutas, de hábitos e costumes, de conhecimentos, de práticas agrícolas, de indústrias, de conteúdos de ensino, de livros lidos pelos estudantes e seus educadores, de histórias marcantes da comunidade e fatos relevantes para a população em seu entorno.

Para Alessandra Baptista, professora de Ciências da Escola Estadual do Campo Jacutinga, este processo vem desencadeando uma série de questionamentos e proposições, como por exemplo perceber que a realidade da escola é rica para a produção de materiais pedagógicos que retratem a vivência dos educandos e educandas do campo e seus saberes populares. “Nós percebemos que o material didático tradicional não apresenta a realidade do campo, das escolas, dos educandos e dos educadores do campo”, destaca a educadora. A escolha da comunidade escolar da Escola Jacutinga foi realizar sua primeira “Tarde Cultural”.

 No dia 31 de outubro deste ano, a Comunidade Escolar Jacutinga realizou a 1ª Tarde Cultural. Com a presença de educandos e educadoras da Escola Estadual do Campo Pio X e da Equipe da ASSESOAR, este encontro teve como intenção apresentar o processo de resgate e valorização da comunidade, por meio da construção do inventário. Apresentações artísticas, recital de poemas e contos, exposição de saberes e sabores do campo, como também relatos de trajetórias de resistência na Educação do Campo foram momentos que marcaram o dia.

Solage, Educadora da Escola Estadual Pio X, socializando os caminhos de resistência pela Educação do Campo em São Jorge D'oeste
Solange Barrozo, Educadora da Escola Estadual Pio X, socializando os caminhos de resistência da Educação do Campo em São Jorge D’oeste

 Viver sem conhecer o passado é viver no escuro

Em 3 Salas, a organização dos educandos/educandas e educadores/educadoras promoveu uma dinâmica para conhecer a história da revolta dos posseiros, as ferramentas de trabalho utilizadas pela comunidade e os trabalhos escolares realizados ao longo deste ano.

Com fortes emoções de alguns participantes da tarde cultural, o museu imagens e versos da história dos posseiros trouxe memórias de familiares que participaram da revolta dos posseiros, como também apresentou uma história ainda pouco conhecida para os educandos e educandas presentes. O diálogo entre gerações foi percebido como importante elemento para os presentes.

 

A partir das ferramentas de trabalho, foi resgatada as antigas rotinas de trabalho pelos agricultores e agricultoras da região, bem como ferramentas na construção das casas de madeira, como por exemplo o facão de fazer tabuinha, utilizado na elaboração dos telhados na época. Máquinas antigas de costura e utensílios de cozinha de ferro fundido também estavam na exposição.

 Com os trabalhos realizados ao longo do ano, foi exposto o herbário, a amostra de sementes e mandalas, uma maquete de uma propriedade, e fotografias das famílias dos educandos. Chás medicinais e relatos de como as famílias tratavam problemas de saúde foram destacados em uma das salas de exposições.

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Um alento para diferentes aprendizados

Comentários ao final da tarde, demonstrando que ao juntar pessoas interessadas em valorizar a escola como um espaço de vida da comunidade se faz conhecimento também, animavam e ao mesmo tempo traziam um grande desafio: Quais os próximos passos?

Apontamentos como realizar novos encontros com as demais escolas de Santa Izabel foram propostos, assim como convidar outras escolas do campo e promover essa troca de experiências de diferentes aprendizados e práticas pedagógicas.

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Relacionado: Confira a última edição da Revista Cambota, nº 273. https://assesoar.org.br/?p=6217

Relacionado: II Encontro das Escolas do Campo da Lapa reúne mais de 500 crianças. http://elaa.redelivre.org.br/2017/10/20/ii-encontro-das-escolas-do-campo-da-lapa-reune-mais-de-500-criancas/

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1 Comentário

  1. Que alegria ver estes trabalhos!! Emocionante confesso que meu coração se encheu de alegria, ao ver minha esta escola realizando trabalhos tao lindos. Parabéns aos Funcionários professores , alunos , direção e a Acessoar, mais principalmente ao Ricardo que faz este trabalho tao importante.


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