Le Momde – França
quarta, 15 de dezembro de 2010

Em um dia, uma criança de 10 anos pode ser exposta, por meio de sua alimentação, a 128 resíduos químicos, provenientes de 81 substâncias diferentes. Quarenta e duas delas são classificadas como “possível ou provavelmente cancerígenas” e 5 como “certamente cancerígenas”. Trinta e sete substâncias também são perturbadores endócrinos (PE).

É essa a conclusão do estudo apresentado na quarta-feira (1º) pela associação ambientalista Générations Futures e pela rede Health and Environment Alliance (Heal), em parceria com a Réseau Environnement Santé (RES) e a WWF-France. De julho a setembro, os autores da pesquisa fizeram suas compras nos supermercados de Oise e de Paris para adquirir os produtos necessários à alimentação diária padrão de uma criança de 10 anos que coma em casa, ou seja, três refeições e um lanche. Os cardápios não eram orgânicos, mas respeitavam o equilíbrio nutricional.

Em seguida, as associações pediram a laboratórios independentes que analisassem os alimentos para detectar a possível presença de resíduos de pesticidas, dioxinas, metais pesados, plastificantes (ftalatos, bisfenol A, perfluorados…) ou aditivos alimentares.

O resultado é exemplar: 34 substâncias químicas foram encontradas no salmão fresco, sendo que mais da metade eram cancerígenas ou perturbadores endócrinos; todas as 6 substâncias no queijo fundido eram cancerígenas e perturbadores endócrinos. Quinze resíduos foram encontrados na manteiga sem sal do café-da-manhã, 10 na carne moída com 15% de gordura, todas cancerígenas e PE, etc. No total, 128 resíduos químicos são ingeridos em um dia. Pior, foram encontradas substâncias proibidas na França em uma caixa de vagem proveniente do Quênia e uma no arroz importado da Ásia.

Embora os limites legais para cada substância tomada individualmente sejam respeitados em quase todos os casos, o “número de resíduos de pesticidas e de poluentes que foram encontrados é impressionante”, constata o Dr. Laurent Chevalier, nutricionista, membro da RES, que pede por “mais controle e pesquisas sobre o efeito cumulativo dessas diferentes substâncias químicas e do tempo de exposição”. Esses resultados “vão além daquilo que temíamos”, se preocupa François Veillerette, porta-voz do Générations Futures, que reconhece que esse estudo, o primeiro de uma ampla campanha lançado por sua associação sobre o tema “Meio ambiente e câncer” , “mereceria ser aprofundado”.

“Os efeitos de prováveis sinergias induzidas pela ingestão de tais coquetéis contaminantes não são levados em conta e o risco final para o consumidor é provavelmente muito subestimado”, afirmam os autores da pesquisa. “Atualmente, não sabemos quase nada sobre o impacto dos coquetéis químicos ingeridos por via alimentar”, insiste Veillerette. “Estamos pedindo pela aplicação do princípio de prevenção a fim de diminuir ao máximo a exposição ambiental, e especialmente a alimentar, a substâncias suspeitas de serem cancerígenas”, dizem os autores. “O veneno não é a intensidade da dose, mas sim a repetição de pequenas doses, e portanto o tempo de exposição”, afirma o professor Dominique Belpomme, da Universidade Paris-V-Descartes.

Esses médicos se preocupam com a progressão da prevalência dos cânceres, mesmo que a mortalidade esteja caindo, e com a relação de causalidade revelada entre a exposição aos pesticidas e a origem de certos cânceres entre os trabalhadores agrícolas, segundo a Liga contra o Câncer. Nesse contexto, “nossos representantes devem encontrar meios de reduzir de maneira substancial a exposição, especialmente a alimentar, da população a essas substâncias químicas”, explica Veillerette. Já existem soluções de substituição, segundo ele, em especial a agricultura orgânica ou integrada.

Embora o estudo seja considerado esclarecedor, há aqueles que procuram acalmar os ânimos. “Nós temos necessariamente em nossos pratos substâncias químicas, é tudo uma questão de dose. O homem pode metabolizar os xenobióticos aos quais ele se expôs continuamente (alimentação, medicamentos, ar interno…),” observa a Dra. Marie-Christine Boutron-Ruault, diretora de pesquisa do Inserm no Instituto Gustave-Roussy, “mas não há por que se gerar uma fobia entre a população, que não saberia mais o que comer”.

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