O GEA Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade protocolou esta semana na Anvisa um dossiê sobre impactos para a saúde dos agrotóxicos à base de 2,4-D e das plantas tolerantes a esses herbicidas. O 2,4-Diclorofenoxiacético (2,4-D) está sendo reavaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que tem até junho para apresentar suas conclusões sobre manter, restringir ou retirar o produto do mercado. O prazo foi recomendado pelo Ministério Público Federal, que em dezembro passado realizou audiência pública para avaliar os riscos para a saúde de uma eventual liberação comercial de sementes transgênicas de soja e milho resistentes ao produto. Essas variedades foram desenvolvidas pela empresa Dow Agrosciences e estão sob análise da Comissão Técnica Nacional de Biosseguranaça – CTNBio, órgão que até hoje não rejeitou um único pedido de liberação comercial de organismo geneticamente modificado.

Além de ter sido ingrediente do Agente Laranja usado na Guerra do Vietnã, os herbicidas à base de 2,4-D são neurotóxicos e afetam o sistema reprodutivo. São ainda apontados como potenciais carcinogênicos e desreguladores endócrinos. Mais grave ainda é a probabilidade – relativamente alta em determinados contextos – de o produto estar contaminado com dioxinas, moléculas reconhecidas como altamente cancerígenas. O veneno foi proibido em 1997 na Dinamarca, Suécia e Noruega e mais recentemente em algumas províncias da África do Sul, bem como em municípios catarinenses e do Rio Grande do Sul. Seu uso em ambientes públicos está proibido nos estados canadenses de Quebec, Newfoundland, Labrador e Nova Scotia.

Um estudo citado no dossiê estima que uma eventual liberação de sementes transgênicas tolerantes ao 2,4-D pode aumentar em até 30 vezes o uso do 2,4-D nos EUA, apenas no caso do milho. Além do aumento das quantidades de produto usado – e consequentemente da contaminação ambiental e da intoxicação da população em geral – a liberação comercial de tais sementes iria gerar riscos sérios e poucos entendidos para a saúde do consumidor. De fato, o produto não metaboliza da mesma maneira nas plantas transgênicas do que nas plantas convencionais, e os novos metabólitos obtidos em plantas transgênicas podem sofrer transformações químicas durante a digestão gerando dioxinas e furanos tóxicos no organismo humano.

Ao todo são 49 instituições que endossam o documento, entre elas o Instituto Nacional do Câncer, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva, o Centro Brasileiro de Estudos sobre a Saúde e o Conselho Federal de Nutricionistas. O documento também recebeu apoio da plenária do Encontro Nacional 4ª Conferência + 2 de Segurança Alimentar e Nutricional, realizado na semana passada pelo Consea.

Para o biólogo Gilles Ferment, autor do estudo e pesquisador do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade – GEA/Nead, “os quase 100 estudos que reunimos para apresentar à Anvisa nos permitem concluir que a liberação desse pacote semente-agrotóxico poderá trazer danos graves e persistentes no tempo para os trabalhadores rurais, os consumidores e o meio ambiente em geral”.

Obtenha aqui o dossiê na íntegra (pdf 317 KB)

Fonte: As-pta

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